Tudo seria muito mais fácil se pudéssemos esquecer completamente certas pessoas que marcam por demais nossas vidas, como no filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Às vezes até conseguimos, mas como no filme, as lembranças sempre voltam, de uma forma ou de outra. Principalmente quando essas pessoas nos marcam profundamente.
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Ela olhava fixamente para a janela de seu quarto. Escrevia. Lia. Ria. Fazia tudo que uma pessoa normalmente faz para se distrair num dia chuvoso.
Ela via os pingos de chuva caindo lentamente, caíam conforme a música que ela ouvia. Mais uma das suas favoritas... De uma banda de rock, talvez. Ela pensava em tudo que vivera, tudo que conhecera recentemente.
Ela realmente aprendeu algo com aquilo? Ela realmente cresceu? Realmente esqueceu aquele que um dia encheu seus dias de vida, suas noites de sonhos e suas tardes de pores-de-sol mais bonitos, vibrantes?
Ela pensava nisso... Achava que não, que ainda gostava dele no fundo. Mas ela entendia uma coisa: ele não era mais tão importante pra ela naquele momento. Como assim? Ela não precisava mais tanto dele pra se libertar, toda a liberdade de que ela precisava, ela alcançara - ou boa parte dela. Ela estava feliz, sozinha, porém, não solitária. Dançava, cantava, ria, divertia-se com os amigos... Nada a abalava. É certo que, pela sua natureza sentimental, vez ou outra ela se sentia um tanto o quanto só. Mas isso não superava sua felicidade, ao menos, momentânea.
Voltou a pensar nele. O que realmente ele era, agora pra ela?
...
Ela escrevia em seu caderno de notas. Notas que talvez depois pudessem se tornar poemas ou, quiçá, pequenos textos. Não conseguia chegar a nenhuma conclusão a não ser que ele se tornara somente alguém que ela costumava conhecer, que agora ela não conhece realmente, ou nunca conheceu - só pensava conhecer.
- Isso é triste... - ela disse, após um longo suspiro - Pensei que você era importante pra mim. Pensei que te conhecia como conheço a palma da minha mão. Mas vi que estava errada. E não era pra ser. Talvez nunca seja. Mas isso que senti não morrerá tão cedo, talvez nunca morra. E quando eu te encontrar, quero ter a força pra dizer que agora você é só alguém muito querido que eu costumava conhecer, ou melhor, pensava conhecer. E saiba que eu devo muito a você, mas não mais do que a mim mesma.
Dizendo isso, ela fechou seu caderno e saiu. Foi à varanda. Colocou mas mãos para fora, depois os pés, as pernas, e enfim o corpo inteiro... Tomava chuva, imaginando que com ela, todos os seus problemas eram lavados, retirados de seu corpo e levados para o chão, para longe, enfim... Imaginava uma renovação real.
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Música:
"Somebody that I used to know" - Gotye feat. Kimbra.