"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Divagações

Um coração pode não suportar muitos golpes, mas com certeza ele aprende com eles e tenta se recompor. Afinal de contas, é um músculo, e pelo o que já ouvi dizer de músculos, quanto mais você o exercita, mais ele se desenvolve, fica torneado. Pro inferno com essa comparação! Nunca gostei de academias.
~*~
Ela se senta em frente ao computador todos os dias, tentando conectar-se no físico a pessoas que em outros planos já é conectada há muito tempo... muitos anos, eras, quem sabe...? Mas sabe que tudo isso tem sido inútil pra que se sinta bem consigo mesma. Ela sabe disso.
A água não tem mais gosto revitalizador de antes. O cigarro se tornou, mais do que nunca, um veneno avassalador. A comida... Ah, a comida: sem nenhum atrativo.
Ela escreve na janela de seu quarto. Consegue ver uns pingos de chuva caindo. "É a chuva do século, as coisas vão melhorar". Que nada, ela sabe que isso é ilusão: esperar naquilo que não se pode tocar, sentir, cheirar...
Alguém uma vez lhe disse que fosse forte. É fácil exigir dos outros aquilo que eles tentam e não conseguem ser.
- Tenta ser feliz assim, você consegue
- Força, você já aguentou tanta coisa!
- Logo passa, tudo passa nessa vida!
Mas para ela, parecia eterno. Um ano. Existe prazo para loucura? E para o mal estar do ser?
Como mensurar onde começa o desespero e onde começa a independência? É possível seguir sozinho sempre? Estamos realmente sozinhos? Se não, como sentir presença das pessoas constantemente?
Amor tornou-se inútil. Não o amor que devemos ter para com todos, mas aquele dos relacionamentos. Útil mesmo é se conhecer, amar-se acima das coisas. Principalmente acima das coisas, este mundo material é sim uma ilusão... 
Ilusão? O que se passa em nossas mentes é mero fruto nosso? Não somos nós co-criadores? Então, como definir a ilusão?
Ela pensava nessas coisas enquanto tomava um trago largo de água. Sim, água. Olhava a janela afora... Ela queria pertencer ao mundo, e ainda assim não o possuía.
- Destrua. Morra. Mate-se. E reinvente-se ao final
Ela ouvia a voz daquela que vinha para destruir... E ainda assim, restabelecer o equilíbrio do universo, das energias que o rondam. "Ensine-me a ser como tu, grande mãe negra!" Ela rogava dentro de si, e ao mesmo tempo em voz alta.
Sentimentos líquidos. Certezas ardentes. Era assim que era, é assim que sempre será.
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