"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

sábado, 30 de abril de 2011

Sempre, Clarice...

" Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade! Não sei viver de mentira! Não sei voar de pés no chão! Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre. "

~*~
Música:
"One" - Glee.

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma breve história...


Ângela escrevia um diário. Mas escrevia sempre que podia e queria - não todos os dias. Ela não achava que escrevendo um diário sanaria suas dúvidas em relação a si mesma (muito pelo contrário), nem queria, através dele, deixar suas marcas em seu tempo. Ela queria, antes, aprender consigo mesma. Ser uma espécie de psicóloga de si mesma, sua própria psiquiatra.
Não queria fazer alarde. Não queria atenção (pelo menos não com o diário). Queria que, escrevendo, ela pudesse se curar das suas próprias dores, frustrações. Ela, inutilmente, acreditava que ler as histórias de si mesma a faria mudar, a faria encontrar algum sentido na sua existência tão invisível e insignificante.
Hoje, Ângela queria realmente escrever algo para desabafar. Algo que somente ela leria. "Inútil", pensava, "totalmente inútil essa merda de diário e essa minha merda de ideia. Mas, vá lá, eu estou mesmo precisando me abrir comigo mesma um pouco..."
Ela pegou seu caderno, sentou-se à escrivaninha do seu quarto e começou a escrever:
"Eu queria, realmente, poder dizer 'fodam-se, meus sentimentos!', mas eu não posso. Não posso porque eu sou um misto de emoção e razão tão mal misturado que, não raro, são as emoções que predominam. E eu queria poder dizer isso porque essas coisas escrotas chamadas 'sentimentos' são inúteis à construção do meu conhecimento. Elas, não raro, atrapalham-me à farta, sem que eu consiga controlá-las. Mesmo agora eu deveria estar estudando algo, mas meus sentimentos, essas malditas pragas, impedem-me o raciocínio.
Eu tenho vergonha de ser assim. Isso não é bonito. Isso não é bom. Isso não é nenhum pouco vantajoso e só me atrasará para o resto da minha vida.
Por que eu escrevo essa merda de diário? Isso por um acaso vai me ajudar? Isso por um acaso é inteligente, útil? Acrescenta algo à minha existência? Será que a minha ridícula existência importa? Eu faço alguma diferença? Só o que eu vejo é: eu, pedindo ajuda, e alguns respondendo ao meu socorro - eu nem sei por quê!
DANEM-SE, MEUS SENTIMENTOS!
O QUE EU GANHO COM VOCÊS?!"
Neste ponto, Ângela revoltou-se e jogou seu diário longe. Quase acertou a janela, o que faria seu diário desaparecer, posto que morava no alto de um prédio de uma movimentada metrópole.
Quando foi pegar o diário do chão, viu a movimentação da cidade e se perguntou por que seria tão importante viver - e mais, por que seria tão importante viver em sociedade. "Por que é importante a vida humana? Ela me parece vazia de sentido... Por que ela me parece vazia de sentido, sendo que para muitos ela é o que há de mais importante?"
Em seguida, ela viu uma mulher com roupas maltrapilhas levando em seu colo uma criança e de mãos dadas com um menininho, também com roupas sujas e esburacadas. Eles andavam sem chorar, sem reclamar, sem, enfim, queixarem-se, quando tinham todo o direito de fazê-lo.
Assistindo a essa cena, Ângela odiou a si mesma profundamente. Como podia ela se preocupar e sofrer por tão pouca coisa quando outras pessoas estavam em situações verdadeiramente ruins?
"Eu sou uma cretina, uma desgraçada egocêntrica e medíocre. Eu não mereço ter tudo o que eu tenho", pensou.
Rápido, frio, desconsertante foi o pulo. No fim, o concreto amenizou a sua queda, e seu pescoço ficou encarregado de amortecê-la.
Dormiu o sono de Hades na rua em frente ao seu prédio.
- Mãe, corre! Pede pra alguém chamar uma ambulância! - gritava o menino maltrapilho após ter visto a cena.
- Ih, meu filho... Essa daí já não tem salvação. Essa gente covarde que se mata não tem jeito mesmo... Têm tudo e ainda se matam... Se a mãe tivesse o que essa gente tem, daria muito mais valor e faria muito mais proveito! Anda, meu filho, vem cá... Não fica olhando pra isso não... É feio por demais... Não tem mais o que a gente fazer, vamos embora. Depois isso fica na tua cabeça e fica com problema mais pra frente... Vambora, meu filho!
A mãe com o bebê no colo pegou de novo a mão do filho e continuou sua caminhada. Enquanto chegavam ambulâncias, chamadas por alguns que viram a queda, a mãe pedia comida no mesmo hotel de que Ângela saltara.
O recepcionista foi benevolente e a família conseguiu pousada e comida - ao menos por aquela noite.

26/04/2011.
Terça-feira.
18h40min.

~*~
Música:
"The show must go on" - Queen.


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Hoje tá osso...

Não, não estou bem
Esqueço-me do dia em que realmente estive bem
Talvez não deveria ter dito
Talvez não revelando seria mais feliz
Talvez na idealização eu fosse mais feliz...
Que importa isso agora?
O que está feito, feito está!
Não se volta atrás!
Idealizações nos alienam...

Foi melhor ter dito
Foi melhor ter me exposto
Foi melhor mostrar que eu posso fazer alguém feliz se quiser.

Mas não sei se foi o mesmo pra ele...
Enfim, que se dane!
Seja o que a vadia chamada Destino preferir!
~*~
Música:
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domingo, 24 de abril de 2011

Novamente, Clarice...

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

Como ela consegue isso? Traduziu o que acontece comigo perfeitamente!
Mudei minha visão sobre Clarice Lispector... Ela é demais!
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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Who am I to judge?

Muitas pessoas dizem que outras vão para o Inferno por causa de suas crenças. E alguns dizem que não existe tal coisa como Deus, não existe tal coisa como uma energia que move a Terra; que a Terra não responde às nossas ações... As pessoas dizem que não existem outras vidas além dessa, e, ainda, outros dizem que não existe tal coisa como Céu nem Inferno...
Mas eu me pergunto: quem sou eu pra julgá-los? Importa se eu sou cristã, pagã ou muçulmana? Nós TODOS somos PESSOAS!! Ou um ateu se difere de um budista?
Por que algumas pessoas são tão fanáticas, tão agressivamente apaixonadas, quando se chega ao assunto "religião"?
Ao meu ver, em todas as religiões, o Ser Supremo é prestativo, amável e piedoso. Então por que algumas pessoas matam outras em nome de um Deus ou coisa do tipo? Aí podem dizer que é por conta da cultura de cada povo, que devemos respeitar as culturas dos outros povos, etc e etc... Mas isso é justo? É justo povos se degladiarem por ESSE motivo?
Eu não acredito que devemos julgar as pessoas por causa da religião delas. Eu sei que aprendi isso muito tarde (até por conta "educação" religiosa que recebi. Ela FOI preconceituosa). Mas APRENDI. Porque eu sei que existem pessoas ruins em todo lugar, e isso NÃO depende de religião.
~*~
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Por Clarice Lispector

"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Nao, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."
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sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Answer my call and I'll set you free..."


- Não é preciso que você seja constante, mas é preciso que você viva intensamente cada instante. Fazer vibrar as fibras de cada músculo a cada contração. Entender que tudo - tudo - é intenso e único, porque cada segundo passado não é revivido, mas relembrado.
- É preciso que eu seja constante, sim! Ninguém gosta de quem vive dessa forma, nesse ritmo, nessa desgovernança de sentimentos e ações! Quem gosta de alguém que agora ri e daqui a pouco chora? Quem entende alguém que ama e logo após já não dá a mínima - mas logo em seguida volta a amar numa ânsia imensa de vida, de toque, de carinho? Uma ânsia de sentir os corações batendo rápidos e juntíssimos um ao outro, como se fossem um só? Quem quer essa inconstância para sua vida?
Ela estava mais realista, apesar desse comentário parecer contraditório. E ele percebeu isso. Essa última fala dela demonstrou a ele que ela tinha conhecimento da sua natureza sentimental e desequilibrada. Apesar de não parecer, ela procurava o equilíbrio. E constante e incansavelmente. Mas sem o conhecimento do método que deveria aplicar para alcançar tal equilíbrio. Por isso andava às cegas. Por isso era inconstante. Por isso sofria.
- Sophrosine...
- O quê? - ela, confusa.
- Você busca o "equilíbrio" de que os gregos falavam...
- Isso é uma comparação totalmente anacrônica, e você sabe disso! - Ela estava muito nervosa com o comentário.
- E você também sabe o que busca! Nos últimos anos, o que você fez além de se trancar em si mesma, mas ansiar alguém que pudesse te destrancar de lá? O que você fez além de suprir suas necessidades de apertar um rosto contra o seu com livros e mais livros? Isso não é hybris, o desequilíbrio? - ele disse, indignado.
- Mas isso é anacrônico!
- Também é a sua mentalidade de treze anos!
Dizendo isso, ele levantou-se da cadeira em que estava e foi andar pelo bosque em que se encontravam. O sol já nascia. Conversaram pela noite a fio.
Era certo que ele gostava e muito dela, mas sua falta de confiança e crença em si mesma já o estavam irritando.
Ela conseguiu alcançá-lo a tempo dele quase desaparecer, como sempre fazia. Puxou-o pelo braço e disse:
- Você tem toda razão, meu amado. Eu procuro o equilíbrio, mas sem saber o caminho. É como entrar num lindo bosque sem conhecê-lo. Podemos até nos encontrar com as vistas que temos ao desbravá-lo, mas nunca encontraremos o caminho que leva à saída. Quando não, esta leva tempo a ser encontrada. Desculpe-me. Eu sou realmente uma criança inconstante...
Dizendo isso, fez o caminho de volta aonde estavam. Ela não queria ouvir mais nada. Não o que ele tinha a dizer - seria o óbvio.
Somente se achegou à árvore de raízes enormes e a mostra em que estavam sentados, recostou-se e dormiu vendo o sol nascer.
"Acalma-te, meu coração.
Busca a paz da brisa,

A constância e vida da terra,
A profundeza do oceano
E a destreza do fogo.

Aproveita que a natureza

Corre em teu socorro

E calmo e sereno

Contempla o sol

Que nasce sempre jovial,

Apesar de tudo."
~*~
Música:
"The voice" - Celtic Woman.
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sábado, 2 de abril de 2011

"Alguém com quem conversar"

- Eu quero ser constante! - disse ela, muito preocupada - Eu quero ser constante, e não esse emaranhado de sentimentos a todo momento! Às vezes eu nem sei se estou em mim mesma, ou se o que acho que sou eu é só o resultado de uma junção de ideias toscas e alheias à minha verdadeira personalidade. O que eu sou?!
- Você é uma menina em conflito consigo mesma porque, de repente, sua vida toda virou no sentido da mudança... - ele disse, calmamente, como quando dizemos algo a uma criança que acaba de se assustar com a própria sombra. - E você, no fundo, não está ainda preparada pra isso...
Ela deixou seu olhar indignado e preocupado de lado e olhou dentro de si mesma. Ele estava certo.
- Sempre quis mudar minha vida, mas eu meio que me perdi nesse novo mundo em que me encontro. Ao mesmo tempo que é bom finalmente cuidar da própria vida, é ruim porque todos esperam que você seja constante, madura, que tenha respostas rápidas a todas as perguntas... E eu não sou bem assim. Tenho um tempo interno muitas vezes diferente do das outras pessoas. O que eu faço?
- Não faça nada. - ele disse, cruzando os braços - Deixe que as coisas fluam naturalmente, você se encontrará nesse universo perdido em que está. Talvez leve tempo, mas o que é feito instantaneamente? Até o macarrão instantâneo leva três minutos para ficar pronto!
Esta última observação a fez rir como uma criança.
- Talvez me falte coragem. Aliás, sempre me falta coragem. Talvez por cômodo, não sei... Sempre vivi em meu mundo particular, nunca deixando outros partilharem dele... Sinto-me indefesa e acuada, como uma pessoa importante rodeada de papparazzi. E é terrível ter de me expor tanto, ter de me entregar de cabeça às relações humanas. Admita - sempre fui sem vida própria.
- Diria até uma verdadeira planta! - ele riu-se rapidamente - Mas há sempre a possibilidade de recomeçar, minha cara... Nada é tão terrível que não se possa consertar. Ninguém é tão isolado que não possa se socializar. E não será a falta de coragem que vai te acuar, mas sim o medo de se entregar. O medo que todos temos, implícita ou explicitamente. Quando se é um só é fácil conviver. Quando se é cem, é muito mais difícil. Mas você já sabe disso.
- Sim, eu sabia... Mas será que eu consigo? Posso não demonstrar, mas há um grande medo e um grande receio em mim. Posso confiar? Posso contar? Posso me entregar sem medo de traições e mentiras? Será que eu consigo ser constante? - ela perguntava a seu coração, e a ele, todas essas coisas.
Ele olhou profundamente para ela. Via como, aparentemente, tudo estava bem - ela estava calma, adaptada ao novo universo, feliz, confiante, independente -, e como, na verdade, ela estava perdida, irritada, infeliz, preocupada, deslocada e muito, muito solitária. E sentia a pior das solidões: aquela que se sente em meio à multidão.
Ele sabia que não seria fácil, mas ele teria de dizer a ela que tivesse calma, que com o tempo tudo se ajeitaria, que ela saberia ser feliz em meio a estranhos, em meio a novas experiências.
Ela tremia. Chorava. Não com lágrimas, mas com a sua alma. Realmente não sabia o que fazer.
Levantando o queixo dela com sua mão, ele olhou bem nos olhos em lágrimas que estavam à sua frente e disse, com o tom suave e calmo de sempre:
- Meu amor, o tempo responderá suas questões. Mas para isso, é preciso paciência, coragem e entrega. Ninguém disse que seria, nem que será, fácil. Mas o caminho é seu. Você julgará se deve ou não trilhá-lo de uma forma ou de outra. Sempre com muita paciência, coragem e entrega.
Ela sorriu e, assim fazendo, suas lágrimas rolaram. Abraçou-o com muita força, como sempre fazia, e nesse abraço sentiu-se segura e confiante.
- Não estarei sempre com você, mas estarei sempre em você. Enquanto seu coração bater.
Dizendo isso, ele deu um beijo na testa dela e foi embora, rumo ao sol que se punha.
Coragem. Entrega. Paciência.

Mariana Rodrigues Costa
20/03/2011
Domingo
19:00h.

~*~
Música:
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