- Eu quero ser constante! - disse ela, muito preocupada - Eu quero ser constante, e não esse emaranhado de sentimentos a todo momento! Às vezes eu nem sei se estou em mim mesma, ou se o que acho que sou eu é só o resultado de uma junção de ideias toscas e alheias à minha verdadeira personalidade. O que eu sou?!- Você é uma menina em conflito consigo mesma porque, de repente, sua vida toda virou no sentido da mudança... - ele disse, calmamente, como quando dizemos algo a uma criança que acaba de se assustar com a própria sombra. - E você, no fundo, não está ainda preparada pra isso...
Ela deixou seu olhar indignado e preocupado de lado e olhou dentro de si mesma. Ele estava certo.
- Sempre quis mudar minha vida, mas eu meio que me perdi nesse novo mundo em que me encontro. Ao mesmo tempo que é bom finalmente cuidar da própria vida, é ruim porque todos esperam que você seja constante, madura, que tenha respostas rápidas a todas as perguntas... E eu não sou bem assim. Tenho um tempo interno muitas vezes diferente do das outras pessoas. O que eu faço?
- Não faça nada. - ele disse, cruzando os braços - Deixe que as coisas fluam naturalmente, você se encontrará nesse universo perdido em que está. Talvez leve tempo, mas o que é feito instantaneamente? Até o macarrão instantâneo leva três minutos para ficar pronto!
Esta última observação a fez rir como uma criança.
- Talvez me falte coragem. Aliás, sempre me falta coragem. Talvez por cômodo, não sei... Sempre vivi em meu mundo particular, nunca deixando outros partilharem dele... Sinto-me indefesa e acuada, como uma pessoa importante rodeada de papparazzi. E é terrível ter de me expor tanto, ter de me entregar de cabeça às relações humanas. Admita - sempre fui sem vida própria.
- Diria até uma verdadeira planta! - ele riu-se rapidamente - Mas há sempre a possibilidade de recomeçar, minha cara... Nada é tão terrível que não se possa consertar. Ninguém é tão isolado que não possa se socializar. E não será a falta de coragem que vai te acuar, mas sim o medo de se entregar. O medo que todos temos, implícita ou explicitamente. Quando se é um só é fácil conviver. Quando se é cem, é muito mais difícil. Mas você já sabe disso.
- Sim, eu sabia... Mas será que eu consigo? Posso não demonstrar, mas há um grande medo e um grande receio em mim. Posso confiar? Posso contar? Posso me entregar sem medo de traições e mentiras? Será que eu consigo ser constante? - ela perguntava a seu coração, e a ele, todas essas coisas.
Ele olhou profundamente para ela. Via como, aparentemente, tudo estava bem - ela estava calma, adaptada ao novo universo, feliz, confiante, independente -, e como, na verdade, ela estava perdida, irritada, infeliz, preocupada, deslocada e muito, muito solitária. E sentia a pior das solidões: aquela que se sente em meio à multidão.
Ele sabia que não seria fácil, mas ele teria de dizer a ela que tivesse calma, que com o tempo tudo se ajeitaria, que ela saberia ser feliz em meio a estranhos, em meio a novas experiências.
Ela tremia. Chorava. Não com lágrimas, mas com a sua alma. Realmente não sabia o que fazer.
Levantando o queixo dela com sua mão, ele olhou bem nos olhos em lágrimas que estavam à sua frente e disse, com o tom suave e calmo de sempre:
- Meu amor, o tempo responderá suas questões. Mas para isso, é preciso paciência, coragem e entrega. Ninguém disse que seria, nem que será, fácil. Mas o caminho é seu. Você julgará se deve ou não trilhá-lo de uma forma ou de outra. Sempre com muita paciência, coragem e entrega.
Ela sorriu e, assim fazendo, suas lágrimas rolaram. Abraçou-o com muita força, como sempre fazia, e nesse abraço sentiu-se segura e confiante.
- Não estarei sempre com você, mas estarei sempre em você. Enquanto seu coração bater.
Dizendo isso, ele deu um beijo na testa dela e foi embora, rumo ao sol que se punha.
Coragem. Entrega. Paciência.
Mariana Rodrigues Costa
20/03/2011
Domingo
19:00h.
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