"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Per spiritum Lilith


"Eu sou a prostituta, aquela que abala a morte.
Este abalo dá à paz, prazer realizante.
Imortalidade nasce em meu crânio, e música na minha vulva.
Imortalidade nasce na minha vulva também, pois minha luxúria é um doce
perfume, como um instrumento de sete lados tocado para Deus, o invisível, o
Todo-soberano, que vagueia ao redor, que dá o grito estridente do Orgasmo." - Tradução da invocação a Lilith em linguagem lunar, retirada de Aleister Crowley : "A Visão e a Voz".


"Eu invoco
o nome de Ki-Sikil-Ud-Kar-Ra
aquela que é chamada de prostituta perversa
ela é mais forte do que mil trovões
ela vem com asas de dragão
e com todas as suas criaturas
de suas bocas jorra sangue
ela chora sangue em alta voz
fazendo os homens ficarem inebriados
dizendo os mistérios da morte e
aumentando a chama da vida.
Venha Lilith!
Apareça Lilith!" - Tradução da invocação Enochiana a Lilith.


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Ela queria introduzir-se na sociedade, mas bravamente não conseguia. Ela queria que as pessoas ao seu redor entendessem que o que ela queria é ser livre e livremente expressar suas opiniões, sentimentos, sua sexualidade... Tudo o que ela desejava era que as pessoas a deixassem em paz!
Mas só o que entenderam foi o contrário... Que queria aparecer, chamar a atenção desnecessária, reverter a cabeça das pessoas a coisas malignas, horríveis. Uma prostituta, uma demônia, uma aberração da natureza!!! Como você pode querer essas coisas? Tem que ser submissa, quieta, não fazer alarde!! Ser "boa moça" e fazer o que tem que fazer para agradar a todos!
Veja bem... Não que ela não quisesse agradar as pessoas... Não todos, porque seria impossível, seria se anular demais. Mas ela queria a compreensão e o amor de todos. Ela queria dizer a todos que todos somos iguais nas nossas diferenças, e que isso era bom. Ela queria dizer que a sexualidade de cada um pouco importava se o convívio em sociedade fosse razoável.
Ela queria que as pessoas entendessem que o corpo é o templo mais sagrado e belo que existe, e também que nada dele, absolutamente nada era profano, no sentido de sujo, impuro, ou algo assim. Principalmente que o corpo da mulher é divino e igualmente importante, tanto quanto o do homem! Lar onde a vida se origina e se forma... Queria que as pessoas entendessem que as habilidades de cada um têm de ser desenvolvidas de acordo com o que cada um pensa, sente e vive!
A maior vontade existente dentro de seu ser latente por mudança era que as pessoas entendessem que cada um sabe de si, e de ninguém mais, e que não se pode afirmar algo sobre alguém sem ter pelo menos uma pequena amostra do que a vida da pessoa é ou foi.
Às vezes, uma pessoa ou outra vinha dividir ideias com ela. Mesmas ideias, mesma cabeça... Mas logo desistiam do propósito maior que ela almejava. Diziam "Você é muito idealista! Jamais vai conseguir fazer todos entenderem isso!! Você pensa muito grande, você é um ínfimo ser humano, limitado e limitante!" Porém, ela persistia. Ela não desistia de seu propósito.
Ela saía por aí dizendo que as pessoas fossem fortes em seus propósitos, em seus ideais, em suas lutas. Queria a força de toda a humanidade com ela para um propósito maior, nobre...
- Puta, desgraçada!! Você vai arder no inferno! Sua bruxa! Maldita seja! Maldito o dia em que você veio parar na Terra! Você é um perigo pra si mesma e pra minha família! Espero que você morra! 
- Essa idiota aí querendo salvar o mundo... Coitada... mal sabe ela o que todos pensam dela... Uma coitada, sem opinião... 
- Eu a admiro muito. Forte, tem certeza do que quer. Vai pra frente, com certeza!
Essas eram algumas das opiniões sobre ela. Mas ela se atinha ao objetivo primordial: a liberdade e a reinvenção de si mesma, sempre, constantemente, incansavelmente... Cansando até de tentar se adaptar à sociedade, à companhia de pessoas que não concordavam com ela...
Ela se fechou em seu casulo pessoal, intransponível, onde ninguém poderia machucá-la jamais. Até quando?
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Música:
"Heart of Lilith" - Inkubus Sukkubus.

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