"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Sobre um sonho demasiadamente real

Eu estava andando pela cidade, o dia inteiro sem um itinerário certo. Então, encontrei uma face amiga:
- Olá, querida! Vamos dar uma volta comigo? Estou precisando achar umas coisas: roupas, maquiagens, que tal? Quer vir?
Eu, não tendo mais nada de interessante a fazer, fui. Era uma amiga minha de alguns tempos já, não vi mal nisso.
Andamos por horas, ela provando tudo que é tipo de maquiagem, perfume, roupa, sapato possível, e me fazendo experimentar também. Foi divertidíssimo!
Enfim, quando nos cansamos, ela sugeriu que fôssemos à casa de um amigo nosso, para conversarmos. Ao que me parece, eles já haviam combinado de se ver.
- Oi, gente! Vocês demoraram hein? Eu estou aqui com algumas bebidas e dois filmes incríveis pra assistirmos! - disse ele, ao abrir a porta.
- Ah, você conhece essa daí, né? Quando começa a ver UMA coisa, engata que é uma beleza em outras TRINTA! - eu disse, o abraçando como de costume e entrando. Logo me sentei de tão cansada.
- Olha, você não reclame! Se não fosse essa minha atitude, você compraria tudo numa loja só e sairia tudo mais caro! Estou sendo sua amiga, queridinha! - disse ela, empurrando a sacola de comida que compramos para levar.
Nós três nos divertíamos muito sempre, estando com outros amigos ou não por perto.
Assistimos aos filmes, bebemos, comemos sanduíches de queijo com brócolis, combinação sugerida por mim, todos amaram. Estava já noite alta quando ela sugeriu que fôssemos embora. Foi então que ele disse:
- Ah, por que vocês não ficam? Tem espaço pra todo mundo dormir aqui, eu posso ficar no sofá e vocês duas podem dormir no meu quarto, a cama é de casal, mas acho que não tem problema vocês dividirem né...
- Hummm que perigo eu e essa deusa na mesma cama! - disse ela, brincalhona como sempre.
- Difícil me segurar com você do meu lado, querida! - eu disse, entrando na brincadeira.
- Então está combinado! Vocês façam o que bem entenderem lá em cima que eu durmo aqui embaixo! - ele disse, rindo e já subindo para arrumar a cama pra nós duas.
Na manhã do dia seguinte, acordei com a luz do sol na minha cara. Sensação nada agradável. Virei-me para acordar minha amiga e irmos embora. Quando me virei, vi que era ele ao meu lado, e não ela. Eu então o acordei e perguntei o que estava acontecendo, como isso foi acontecer, ao que ele me disse que ela havia ido embora horas antes e ele decidiu ir dormir ao meu lado porque o sofá estava dando dores nas costas e no pescoço dele. Eu compreendi e tentei voltar a dormir, afinal era sábado e eu não trabalho tão cedo.
- Vou tomar um banho, tá? Qualquer coisa me grite! - ele disse, já saindo da cama. O quarto dele era uma suíte.
Eu então não consegui dormir mais. Virei-me para o criado-mudo e vi que havia uma fita cassete com o meu nome nela. Claro, eu me assustei. Havia uma televisão com vídeo cassete no quarto dele, então fui assistir. Pensei as piores coisas possíveis, como ele ter nos gravados dormindo, e coisas piores até... Até que vi a carinha dele toda feliz no vídeo:
- Oi, bom dia! Espero não ter te assustado muito, estou longe de querer isso... Quero que você se sinta o mais confortável possível. Aliás, dormiu bem? Bom, isso é uma gravação então você sabe, agora, que foi tudo planejado milimetricamente entre mim e a Valéria... Bem, eu estou aqui para dizer o quanto eu amo você e todos os porquês...
Eu não acreditava, não achava que seria possível que aquilo estava sendo direcionado a mim. Ele havia ido a um show de um cantor que ambos amamos, Hozier, e havia gravado várias partes de várias músicas que, para ele, lembravam a minha pessoa. Dedicações de músicas a mim. Letras lindas, como sempre... Hozier, não seria diferente.
Ele falava o quanto gostava de mim. O quanto esperou para poder dizer pra mim tudo aquilo, o quanto esperou o momento certo para se declarar, o momento em que eu deixasse de lado aquele que não me fazia bem havia meses já pra que eu estivesse aberta a quem realmente me amasse, com toda a sinceridade possível. Por fim, ele disse que haviam algumas coisas dentro do criado-
mudo que eu precisava ver.
Desliguei o vídeo na hora, me controlando muito para não chorar, e corri ao criado-mudo. Em cada gaveta, um cartão com poesias. Em cada gaveta, uma carta explicando o que ele sentia por mim. Com datas. Já havia um tempo que ele queria me contar tudo aquilo, o que confirmava que ele não me contava por conta de meu coração estar ligado a outra pessoa. Eu estava já quase chorando. Então encontrei um pacote meio tosco, embrulhado por ele talvez, que dizia: "Meg, minha amada Meg... Sim ou não?"
Abri vorazmente aquele pacote para encontrar dentro um vestido azul com listras pretas. Muito bonito... E foi então que desabei em lágrimas. 
Eu não imaginava que aquilo seria possível, que alguém pudesse gostar de mim tão intensamente assim. Foi uma surpresa muito feliz. 
Ele então saía do banho, estava de toalha ainda, quando o vi à porta do banheiro. Eu me levantei e fui na direção dele.
- Então, o que me diz? Se for não, me diz já porque daí eu volto pro vapor do banho!
Eu, que nunca havia sentido nada por ele, me senti plena com aquele amor todo que ele demonstrou ter. Olhei bem em seus olhos, limpei um pouco as lágrimas e meus lábios responderam juntando-se aos dele. 
Nunca me senti tão plena, tão amada em toda minha vida. Era como se ser como eu sou não fosse em vão, como se eu não estivesse amando sozinha mais. Como se houvesse alguém com quem eu pudesse compartilhar todo o amor que sempre sentira e essa pessoa não faria pouco caso. Senti-me eu mesma, sem medo de ser eu mesma. Ele aguentaria todo o amor que eu sentiria, e retribuiria.

~*~
Música:
"Cherry wine", Hozier.

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