"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

sábado, 3 de dezembro de 2016

"Estou atento ao farol, contra o tempo e a multidão"

- Mas o que você faz aqui, sentada, toda silenciosa? 
Ele a encontrara num momento não muito bom de sua vida, mas isso ele já sabia. Ela estava querendo se encontrar, entender-se para então poder entender alguém verdadeiramente. Mas o que importava no momento é que o sol estava nascendo, e, juntamente a ele, vários pensamentos acometiam a menina do olhar infinito...
- Eu não sei o que acontece comigo, meu Amado... Por que demorei tanto a entender que o amor tem de ser natural pra acontecer? É como um sopro de vida, de fato... Quando se percebe, já está amando. E não é algo que de repente acontece, como pensamos... Na verdade, tem coisas muito mais profundas envolvidas... Vem de dentro, sempre vem de dentro...
Ela refletia de forma tresloucada: os pensamentos vinham e ela dizia aquilo que lhe ocorria. Havia pouco tempo para pensar e muito mais para sentir. Assim que os sentimentos do mais profundo instinto vêm.
- Ora, meu amor... Como assim, você nunca percebera isso antes? Que lhe aconteceu que percebeu somente agora? Diga-me, há muito não conversamos longamente das matérias de seu coração e de seu ser, e isso muito me instiga! 
Ele se sentou ao lado dela, profundamente alegre por conta do brilho que viu em seus olhos. Parecia que agora ela havia começado a entender o que realmente deveria acontecer...
Ela disse a ele que, após tantos revezes e a decisão de que estar sozinha era o melhor para si, depois disso tudo, começou a perceber melhor algumas pessoas ao seu redor e, como num sopro, um sentimento acendeu-se. A chama primordial recebeu o sopro que precisava para queimar intensamente, e agora existia nela uma chama que ardia constante... Não extremamente forte, posto que chamas assim apagam-se facilmente - o tal fogo de palha - e ela já havia visto que aquilo que ela agora sentia era forte, porém brando... Não era algo que cessaria tão facilmente...
- Tudo isso muito me encanta, meu amor... Mas o que te faz pensar que este não é tal qual fogo-fátuo que lhe acometeu tempos atrás? Penso que você precisaria refletir bastante para que não seja o mesmo...
- Eu acabei de lhe dizer o porquê de não o ser... Mas posso ser mais clara. Este fogo queima internamente, vem de dentro, de mim e dele. Queima a ambos, muitas vezes ao mesmo tempo. Tal conexão sincera eu não tive antes. Pensei ter tido, porém, era o famigerado fogo-fátuo... No fundo, sempre soube que o era, mas não dei ouvidos porque estava preocupada demais com vaidades... Agora eu entendo, agora eu vejo... Agora eu o vejo. Antes eu o enxergava, mas não via... Demorei a entender que este fogo interior, este ser de pura nobreza que preenche meu coração e meus dias de alegria, tinha o encanto que eu precisava... Tinha o amor que eu tanto buscava fora... Que tola! Era somente olhar pra dentro pra ver exatamente aquilo que tanto buscava: e isso no sentido de mim mesma e dele...! Vê? Agora eu entendo!
Ele parou para pensar. Ela realmente via, ou começava a ver, aquilo que realmente importava para que ela melhorasse como ser humano. O sol já mostrava mais os seus raios e, nessa manhã de verão brando e suave, a brisa tocava os cabelos dela, fazendo os redemoinhos já conhecidos por ele. Ela estava linda, como nunca estivera antes. A beleza de dentro vindo à tona na pele. E, de seus olhos, faíscas de luz que refletiam o fogo interior... E lá... lá dentro... ele pode ver o rapaz de que ela tanto falava. Ele pôde ver, de dentro do coração dela, o sentimento oceano-universal que inundava a ambos por muitas vezes... E ele então entendeu, deveras, que ambos eram um do outro, em liberdade e amor.
- Meu amor... Você está radiante como nunca... Tenho muito orgulho de você, realmente olhando para si e para o outro, sem se negar! Que felicidade... - ele a abraçou longamente e, daqueles olhos tão brilhantes, algumas lágrimas rolaram.
Fazia sentido. Ambos sabiam o quanto esse encontro de almas era profundamente sincero. Antes mesmo de ser amor nesse sentido, já era amor em outros níveis da existência. Ela precisava se equilibrar um pouco antes... Ainda precisava muito, mas algumas percepções a fizeram ver, de fato, o que interessava. E era somente isso que ela queria por perto dela. Quem e o que a interessasse. E ele a interessava muito... Um interesse sempre novo e, ao mesmo tempo, tão familiar, tão "de casa"...
Casa no braços daquele que ela ainda não vira. Aconchego em um coração oceânico e abundante. Era isso que ela tinha com ele.
O sol ainda nascia quando eles deixaram de se abraçar. Ela foi embora, foi até ele. E, no nascer do sol, eles se viram... Reviram. E inundaram juntos.

~*~
"A Prosa", Terno Rei:

"Estou atento ao farol
Contra o tempo e a multidão
A moça tem um jeito bom

Ela faz tudo como eu gosto
Me leva pros sonhos mais estranhos
Ela canta tudo que eu faço
Eu não tenho nada pra dizer
Ela dá risada e eu gostei
Me olha de lado, me desmancha"
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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

"É apenas uma faísca que nunca poderemos rastrear"


Ao analisarmos a terra podemos entender aqueles que dizemos frios e estáticos.
Por fora, vemos um envoltório frio, denso, por vezes mutável, estático na maior parte das vezes. Se visitarmos as camadas mais interiores da Terra, veremos em seu interior o núcleo, que é feito de lava fervente.
Por analogia, podem entender que as pessoas que parecem frias por fora podem ter dentro de si lutas intensas consigo mesmas e paixões intensas por si e pelos outros.
Perigoso é dizer que quem não demonstra paixões não as tem.
A frieza é um escudo muito fácil a um coração muito machucado.
Não falo isso porque está doendo - é de muito observar. E é de muito observar que cheguei a uma conclusão muito importante: é só depois de pertencer a si mesmo que é possível se compartilhar com o outro. Sim, se compartilhar, e não pertencer. Não há a quem possamos pertencer, isso não faz sentido. Somos os responsáveis por nossas vidas: nossas ideias, conclusões, sentimentos, desejos são somente nossos... Como poderíamos delegar a outrém o cargo de tomar as rédeas de tudo isso? Seria egoísmo...
Eu ainda não me pertenço... Estou perdida de mim mesma, tentando me encontrar. Essa bagunça vai demorar para se organizar. Por favor, limpe os pés ao entrar, tenha cuidado com a casa que está sendo organizada, e principalmente, tenha paciência. Porque, como dizem as mães, se não for ajudar, não atrapalha! E nada de pisotear onde tá sujo e ir pra onde está limpo... por favor, dá trabalho limpar novamente! E que, principalmente, eu consiga não bagunçar novamente ao tentar organizar, o que é muito difícil.
Terra. Lar. Núcleo. Interior. Macro. Micro. Somos universos gigantemente minúsculos.

"Percebo em meu coração
Que você pode nos levar para o caminho errado
Eu mantenho em meu coração
É apenas uma fase
Isso me mantém em pé de guerra
Há algo mais acontecendo
É apenas uma pequena faísca
Que nunca poderemos rastrear

Que nunca poderemos rastrear
Que nunca poderemos rastrear

Mantenho em meu coração
É apenas uma pequena faísca" - "Astray", Cambriana.
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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

"Eu agora estou completamente energizado"



Meu querido,

Os começos são sempre doces: os amores são sempre perfeitos e eternos. As promessas... Ah, as promessas... Ser sempre compreensivo, ser sempre bonito, intenso, maravilhoso... Todos os começos são uma aventura maravilhosa... Mas e os meios, meu amor? Como podemos lidar com os meios?

Todo ser humano tem uma parcela amável e uma parcela detestável, e é preciso saber que nossa essência é pura. Não pura no sentido de boa, mas no sentido de imaculada, original, única. E, embora nossa parcela ruim venha sempre para boicotar nossa essência pura, ela também nos ajuda a estar presente na vida com um senso crítico bastante aguçado.
As experiências que temos existem para que aprendamos a aproveitar os momentos do agora, viver intensamente cada acontecimento, e não para que nos prendamos às máculas que nos causaram...
Como é difícil, meu amor... Como é difícil deixar o passado ir de vez... Deixar que a dor nos domine, deixar que esse romance entre nós e a dor seja algo presente e aceitar que a vida pode nos proporcionar momentos de felicidade e não há problema algum nisso...
Creio mesmo que tenhamos nos acostumado a sofrer, e, por conseguinte, passamos a amar a dor... De tal forma que, qualquer sentimento bom, seja qual for, nos deixe em parafuso quando acontece. E aí, num ato de auto-boicote, buscamos querer que a dor volte, porque esse era o estado anterior, e estávamos seguros antes.
Qual o preço da segurança? É trancafiar-se dentro de um prédio e não ir à praia para ver o mar, por medo de morrer? Morre lentamente quem não vive o agora. Também morre lentamente quem deixa de experimentar todos os sentimentos que a vida nos proporciona.
Os meios... os meios são tortuosos... mostram os dissabores que podemos enfrentar nos percalços do caminho... Desistir? Deixar de lado? Por mais que pareça mais fácil, essas nunca foram as opções mais fáceis pra mim... Eu sempre insisti muito, demais, mais do que minha capacidade poderia aguentar. Por que as pessoas são sempre o contrário de mim? Já pensou nisso, meu querido? Já notou isso?
Mesmo perante todos os indícios de que eu deveria deixar de lado, ou mesmo esquecer, eu estou lá, lembrando... guardando... protegendo... analisando tudo cuidadosamente, meticulosamente... Por que insisto tanto em mim mesma? E nos outros, ainda mais?
O que realmente me pergunto, nesse momento, é até que ponto eu vou conseguir tocar sua alma... Parece que você se afasta de mim... isso é verdade, meu querido? Existe uma armadura sendo feita em volta de você? Eu espero que seja somente meu pessimismo falando alto...
Sentimento imaculado, maculado. Tempo, seria você meu aliado? Não sei se seria meu aliado ou meu carrasco... Ao que tudo indica, um misto de ambos...
Enquanto me conheço, menos entendo posturas antigas... E agora, meu amado. eu entendo o que eu não sou e o que eu não vou suportar... E eu não vou suportar essas manchas por muito tempo... Preciso saber, preciso de detalhes... O diabo mora nos detalhes... E eles vão me amaldiçoar...
Meu querido, eu espero que você entenda que eu te amo muito, mas eu te amo o suficiente para perceber que, talvez, você esteja menos feliz comigo do que sem mim. E eu estou pronta para sair de cena se for preciso. Só me ame enquanto se sentir bem e uma pessoa melhor. Do contrário, eu não faria diferença.
Não se engane, eu não estou me negando nem esquecendo do que eu preciso... Muito pelo contrário, sei bem o que quero... E eu quero você, meu querido... como quis desde o princípio...

"Me dê todos os seus inimigos

Eu posso aguentá-los, honestamente
Isso não é uma perda de tempo
Agora estou completamente energizado"

Eu posso aguentar tudo, pois cada um tem o coração que consegue carregar... E meu coração é grande o suficiente para aguentar tudo, mas ele não é grande o suficiente para deixá-lo cair, deixá-lo sofrer... Eu vou sempre, honestamente, querer o seu melhor, meu querido...



Da sua sempre querida,
Sua Amada Imortal.

~*~
Música:
"Choose you", Cambriana.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Dançando com a solidão



Ela dançava. Estava no meio da multidão, pessoas de todos os tipos, etnias, crenças, desejos... As luzes piscavam imensamente. A música tomava conta de seu corpo por inteiro, e retumbava dentro de seu ser. Ela era toda música: pulava, gritava, dançava... Aproveitava cada segundo como se fosse o último.
Um observador desavisado poderia pensar que ela estava tão somente aproveitando o momento, seguindo o lema de tantos jovens que conhecia: "Viva intensamente até que a morte te encontre, pois nada se leva dessa vida que valha a pena. Depois disso, tudo acaba."
Não era isso que a movia. Percebam: ela estava perdidamente apaixonada. Inutilmente, outras pessoas se aproximavam dela e tentavam estar em sua companhia. Ela estava satisfeita com o amor que tinha em si. Era uma paixão arrebatadora, irresistível, daquelas que vivemos por semanas quase sem comer porque ela nos completa de tal forma que não sentimos nada além dessa paixão.
Qualquer pessoa que chegava perto dela, ela dizia a mesma coisa:
- Desculpe-me, mas não estou a fim hoje. Eu estou apaixonada e muito compromissada com alguém...
- Mas então por que você está numa balada, sozinha, dessa forma?
Engana-se quem pensa que ela não está acompanhada. O amor em seu peito, que transparecia pelos seus poros, demonstrava que ela sempre estava acompanhada. Mas sempre existe aquele sujeito que insiste bastante em saber todos os porquês...
Ela havia se cansado de dançar por tanto tempo. Resolveu sentar-se ao bar e, quem sabe, beber alguma coisa. Ela amava beber muito, isso a ajudava a não pensar nos problemas da vida, que já eram demais para que ela não aproveitasse momento algum de abstração. Ao sentar-se, olhou em volta; as pessoas dançavam, alucinadas. Luzes piscavam, a música estava mais alta e retumbante do que nunca. Pessoas entrelaçavam-se em beijos, abraços e amassos mais quentes nos cantos menos visíveis daquele lugar. Isso não a incomodava, na verdade até achava interessante um ambiente só conter tantas interações humanas em diferentes níveis. Tudo era captado por seus olhos, ela não perdia um só detalhe. "Seres humanos são demasiadamente interessantes para perdê-los de vista", ela pensava.
A alguns passos de distância, ela percebeu um homem seguir em sua direção, com um copo à mão e outro, também em punho. Ela respirou fundo, sabia que não seria somente uma resposta simples que o afastaria dali. "É um dos curiosos e teimosos. Vamos lá", ela pensou, ajeitando-se no banco e arrumando seus cabelos para detrás das orelhas, realmente em posição de atenção focada.
- Olá, moça. Você parece tão sozinha aí, gostaria de companhia? Na verdade... - ele colocou o copo na frente dela - trouxe isso para você. Você é muito interessante... 
- Ah, você me acha interessante? Que peculiar. Poucas pessoas acham isso. - Ela estava mentindo, ela era interessante a muitos. E ele sabia da mentira, afinal de contas, estava lá enquanto ela dançava e dizia a todos para se afastarem.
- Pois eu te acho muito interessante... Na verdade, gostaria de saber porque uma moça tão linda, tão segura de si, está sozinha numa balada... Sem amigos, ninguém a acompanhar... Por que, moça?
Ela respirou fundo, sorriu no canto da boca e olhou bem nos olhos daquele homem desconhecido, porém muito petulante:
- Eu gosto de sair sozinha. Sabe, eu amo. Estou perdidamente apaixonada. Então, saio sozinha.
- Mas então você está desacompanhada porque seu amado está em outras companhias, não é mesmo?
Novamente, ela respirou fundo e tomou seu copo por inteiro. Ela olhou de forma mais incisiva para aquele homem horrivelmente petulante e disse:
- Eu estou sempre acompanhada da minha amada. Na verdade, eu estar sozinha aqui, neste momento e em vários outros momentos nos faz muito mais próximas e conectadas do que se estivesse em companhia. 
Ele olhou com certa confusão e reprovação. Afinal de contas, ela mencionara uma amada, e ele, claramente, perdera todas as esperanças em conseguir algo com aquela mulher. Então, o que mantinha aquela mulher ali naquele local, sozinha, totalmente solitária? E por que ela estava tão feliz? 
- Quem é sua amada, se ela é tão incrível assim, moça? Deve ser, no mínimo, alguma famosa ou rica... - ele riu-se. Os olhos dela reviraram-se de incômodo.
Ela levantou-se, claramente com desdém nos olhos. As músicas continuavam tocando. As luzes continuavam piscando de modo muito atraente. Ela lentamente colocou o banco no lugar onde estava antes de se sentar, virou-se para ir embora e o homem a segurou pelo ombro:
- Você não vai me responder? Além de lésbica é sem educação?
Ela respirou fundo novamente. "Se petulância houvesse um limite, ele já haveria ultrapassado mais de um", ela pensou, enquanto voltava-se para aquele homem.
- Olhe bem, meu caro... Com quem eu me relaciono não lhe diz respeito, porém, só para que você entenda, eu vou lhe explicar por quem eu estou perdidamente apaixonada... Ela chega quando menos esperamos. Ela nos surpreende. Ela faz com que sejamos melhores para nós mesmos e para os demais. Ela nos mostra quem somos realmente, mostra o mais profundo do nosso ser. Ela nos faz perder-nos para que nos encontremos. É preciso estar preparado para recebê-la, e ela não escolhe mulheres ou homens para se relacionar. É muito o caminho contrário: são as pessoas que escolhem buscá-la. E ela recebe a todos, de braços abertos...
- Nossa, mas parece que você está falando de alguma pastora, porém isso não pode ser, porque pastoras não são lésbicas!
Ela estava quase bufando de raiva do quanto aquele ser humano em sua frente não conseguia ver além do sexo, nem por uma vez em sua vida, nem por um esforço mínimo.
- Vou deixar claro para você: eu amo a solidão. Ela é minha maior companheira e amiga. A única que está comigo em todos os momentos, a única que me entende como ninguém. Como diz aquela frase: "a solidão é meu prazer oculto onde minh'alma clama pelo vazio que me mantém viva". Nela, eu me encontro, encontro quem realmente sou, e regozijo imensamente naquilo que sou e vivo. Os momentos bons e ruins, os momentos claros e escuros como... Como uma balada realmente. O piscar das luzes diz muito do que a solidão representa pra mim, e a dança mostra a minha alegria em ser feliz com minha solidão. Bailamos juntas para que o universo se mantenha firme.
Ele olhou para ela com feição de incredulidade. Ele não podia acreditar que uma moça tão linda preferisse a solidão a estar com alguém. Ela percebera sua indignação:
- Não há ninguém a quem eu possa pertencer. Eu coloquei todos para fora, preenchi-me de mim mesma, e não cabe mais ninguém na minha caixa torácica. Mantenho meu vazio seguro, porque assim faz sentido viver. Assim faz sentido ser. E, se por um acaso, algum dia, alguém entre... Será por muito teimar, ou então por minha solidão aceitar a solidão daquele alguém. Agora, se você me dá licença, eu preciso estar próxima de minha amada para que possa ser feliz, portanto queimarei o chão um pouco...
Ela sorriu, saindo, para longe daquele homem que, ainda que compreendesse o que ela havia dito, não conseguia entender porque alguém tão incrível poderia estar sozinha. Aliás, como poderia preferir ser sozinha.
A mulher sorria, dançava com os braços pra cima, mexia sua cabeça para os lados, os quadris soltos, livres... E ela estava plena, daquele jeito. Ele a observava de longe. Não entendia, definitivamente. Mas ela entendia muito bem. Ela sabia, na verdade. Sabia que a solidão era a melhor companhia de quem realmente consegue se amar. Havia sentido, havia música, havia paz... Havia ela e seu universo interior.
Ela dançava embora o mundo ao seu redor fosse de outra natureza. E estava tudo bem.

~*~
Música:
"Ribcage", Andy Black.
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terça-feira, 9 de agosto de 2016

Eu sou Andrômeda



Ela estava sentada na varanda de sua casa. O vento lhe era leve, uma tarde de outono muito fresca e iluminada com tons pastéis do sol. Ela olhava para longe; de lá vinha um carro. Carro este que ela conhecia muito bem.
O carro estacionou a alguns metros de distância. Um homem desceu como um raio do carro em direção a ela, que se encontrava em estado pensativo e não havia ligado para o estado de espírito do homem. Na verdade, até havia o notado, mas não queria se abalar. "Não desta vez, eu não vou me abalar por ninguém mais a não ser eu mesma", pensou.
- Como você pôde ter a pachorra de me deixar falando sozinho lá no bar? Você não tem coração? - ele disse, esbravejando à sua face. 
As gotículas dos lábios dele espirravam nos olhos dela, em suas bochechas, seus lábios... "Convoque seu buda, eles dizem. Bem, vamos tentar", ela pensou novamente, respirando fundo.
- Como você pode ser tão insensível? Você só percebe suas necessidades, você é uma egoísta, egocêntrica! Não pensa em ninguém mais além de você! Estou sendo redundante sim, porque você é uma pessoa ridiculamente imprestável! Sua ignorância e egoísmo não têm limites! 
- E baseado em que você diz tudo isso? Só porque eu saí de cena quando percebi que eu teria que me moldar aos seus caprichos pra poder estar do seu lado? - ela respondeu, com a serenidade de quem sabe bem quem era e quem ele era.
Ele paralisou-se. Sabia que ela era capaz de uma perspicácia infindável, mas nunca esperou ouvir isso dela. E ele sabia que era verdade, por isso não contestou.
- Você não quer pessoas ao seu lado para transbordarem com você. Você quer moldar pessoas ao seu bel prazer. Você quer um padrão certo de pessoas, e eu não me submeterei a isso... As pessoas ao seu redor parecem querer se moldar aos seus gostos para estarem perto de você... Se pensa que eu farei o mesmo, está bem enganado. Só me moldo àquilo que é anseio de minha alma, não a pessoas.
Ele olhou longamente para ela, e sabia que ela havia analisado muito todas as questões envolvidas para, depois, falar. Ele sabia o rigor de observação daquela que ele mirava, admirava e amava.
Ela se levantou, andou até a cerca que havia em volta da varanda, apoiou-se lá e meneou a cabeça de um lado para o outro, tomando ar a cada movimento.
- Você me conheceu num estado de mudança, e esse estado, por vezes, é constante. Mas, se há uma coisa que eu não me permitirei é me perder por qualquer motivo que não seja conhecimento de mim mesma. E espero que hajam pessoas ao meu redor que me indiquem quando estiver me perdendo por outros, e não por mim mesma. Porque isso é algo que não me permitirei nunca mais. Nem por você, nem por ninguém. Repito: só me permitirei me moldar àquilo que é anseio de minha alma.
Ele olhou profundamente para ela. Sabia que ela estava sendo sincera o tempo todo, sempre fora assim. E isso o encantava nela, toda a existência dela na forma que ele conhecera o encantara muito... E ele percebia que não havia porquê querer moldá-la. Ele não tinha esse direito.
- Meu amor... Perdoe-me... Eu havia me esquecido que não tenho direito algum sobre qualquer ser humano... Por vezes posso ser bastante egocêntrico, você me conhece bem... há quanto tempo não discutimos juntos, e igualmente vivemos momentos incríveis juntos... Perdoe-me se tentei lhe moldar... Mas é que você irrompeu por aquela porta do bar sem nem dizer pra onde iria... Não entendi bem nem o que te irritou... Aí vim atrás de você.
Ela olhou para ele longamente. Sorriu levemente e foi em sua direção:
- Você me conhece bem, mesmo sem dizer pra onde iria, você me encontrou. Viu como não é preciso ditar regras para que nos demos bem? Eu irrompi por aquela porta porque você queria que eu te entendesse a qualquer custo. Entenda você uma coisa: somos universos, cada um de nós. Planetas colidem quando universos se encontram, e não há problema nisso. O que quero dizer é que haverá momentos em que não nos entenderemos, não concordaremos, e não há razão para frustração ou sofrimento... Somos um, mas também somos dois. Entende?
Ele entendia, desde o princípio ela falara isso a ele, mas ele relutava em entender. Após o ocorrido, ele podia entender melhor. Seus olhos marejaram-se. Ele a abraçou longamente.
O sol se punha, e com ele iam embora todas as incertezas de que ela o amava. E ela sabia que ele a amava também. Universos tão distintos, mas também tão semelhantes, tão próximos...

~*~
Música:
"Face to face", Cambriana:
"Se você puder se manter de pé algum dia
Finalmente nos veremos cara a cara
É algo que eu vou aprender
Se você puder se manter de pé algum dia

Ainda há um oceano entre nós, amor
Tudo machuca quando não é o suficiente
Se você confiar nas noites mais frias
Olhe para minha cabeça para não perder de vista"

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sábado, 16 de julho de 2016

"Uma alma solitária, uma alma oceânica"


Ela estava sentada sob a árvore costumeira. O vento perpassava seus cachos levemente... Havia nele um quê de paz que, ela sabia, vinha de dentro dela também.
Era uma manhã agradável - os pássaros cantavam, as árvores eram iluminadas por um tom de luz nunca antes visto por ela... Ou, ao menos, ela nunca havia reparado.
Ela o via ao longe. Ele tinha passos largos, porém calmos. E um sorriso no rosto que nunca tinha visto. Era, ao mesmo tempo, enigmático e... feliz.
- Bom dia, meu amor... Vejo que estás mais fresca que quando te vi outrora. Será que posso saber o motivo de tua felicidade tão somática?
Ela levantou um pouco a cabeça para poder vê-lo. Estava bonito ao sol.
- Meu amado... Não sei dizer... É um sentimento oceânico que me invade, como nunca havia sido invadida antes... É tão bom que chega a doer... E não consigo pensar que pode ser que acabe um dia, pois sei da finitude das coisas... É tudo tão intenso, você sabe...
- Sei bem, meu amor... Mas, conte-me, porque estás tão agitada? Teu oceano havia tempos não era tão bravio assim... Creio que alguém está conseguindo tocar teu ser... tua essência...
Ela respirou fundo. Ele sempre sabia fazer com que ela pensasse muitas coisas além daquelas que lhe acometiam. Ela, então, sorriu.
- Há anos não sinto o que estou sentindo. Creio que só o senti quando lia a "Lira dos Vinte Anos", quando, com 15 anos, pensava que morreria aos 20, assim como o seu autor... Eu pensei que nunca encontraria alguém que revolvesse o mar bravio dentro de mim, até então sereno. Consegue entender?
Ele conseguia ver em seus olhos a vida que estava sendo desperta. Ele conseguia quase palpar a vida que estava se desenvolvendo dentro de seu ser. Havia anos que ele não a via dessa forma, desde que estabeleceram contato mais profundo... Ela era um mistério a ser desvendado, sempre fora, ainda mais agora. E ele achava que era um oceano tão profundo que talvez até ele não conseguisse lidar com tudo aquilo que estava encrustado naquele olhar...
- Consigo ver que é um titã, porém não consigo mensurar a imensidão dele... E isso, meu amor, assusta-me grandemente... Será que serás capaz de controlar este gigante? Este amor que está andando sob a Terra e manifesto dentro de ti? - ele estava deveras preocupado, nunca a vira nesse estado.
Ela então se levantou, andou de um lado para o outro, pensando acalmar-se, embora isso só aumentasse sua sensação de oceano... Profundo, intenso, bravio, engolidor de homens...
- Ele é tudo aquilo que eu pensei não existir. E é verdadeiro. Eu não entendo, não me conformo, como pode um ser humano ser capaz de tal agressividade amorosa? É uma força visceral, incontingente, deslumbrante... Vasa pelos poros do ser dele, dá pra ver claramente... Como pode um ser humano ter o amor... de um deus?
Ele então admirou-se. Termos novos, modos novos... ou seriam antigos redescobertos?
- Meu amor... que coisa maravilhosa! Talvez tenhas encontrado alguém que saiba lidar com tuas "avalanches tempestuosas"... Não estás feliz com isso?
- Estou, até demais, meu amado... E confesso que isso tudo me assusta... mas de uma forma boa. Sei quem sou, sei de meus limites. Mas também sei que amar é se arriscar, assim como viver. E eu, como bem sabe, tenho a alma oceânica... As ressacas trazem pra dentro e empurram pra fora. O profundo de minha alma pode ser assustadoramente belo e horrendo... Tudo ao mesmo tempo.
Ele percebera a vivacidade com que ela se referia a este novo estranho que ela vinha conhecendo... Estranho? Será mesmo? A familiaridade era enorme... como se sempre tivessem tido contato íntimo... Mas, ao mesmo tempo, nunca tivessem tido contato. Tudo tão familiar, mas estrangeiro ao mesmo tempo. O que havia de excitante, havia de incompreensível. Tantos sentimentos misturados... Tantas sensações juntas... Todas, dionisíacas...
Ele somente olhou bem em seus olhos, abraçou-a imensamente, intensamente, deu-lhe um beijo de adeus no rosto e foi-se...
Era assim que tinha de ser sempre, essa vontade de vida, de risco, e, ao mesmo tempo, saber da segurança que existia. Tinha de ser oceânico...

"Cante o que não puder dizer
Esqueça o que não puder tocar
Precipite-se em afundar em belos olhos
Caminhe pela minha poesia, este réquiem
Minha carta de amor a ninguém."

~*~
Música:
"Dead boy's poem", Nightwish.


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sexta-feira, 24 de junho de 2016

"Send my love to your new lover..."



Despeço-me de ti.
Despeço-me de ti como aquela que quis muito, mas não pôde ter
Como aquela que sabia das consequências desde o princípio, mas quis tentar
Jogou-se no abismo d'O Louco - e não se arrepende disso

Despeço-me de ti, pois esta vida é movimento
E me sentia demasiadamente parada, estagnada...
A flecha de Eros, sempre tão certeira e ao mesmo tempo tão dolorida...
Reascendendo paixões, estancando feridas e fazendo novas...
A espada de Kali, certeira em seus cortes
A dança da destruição, para que então o novo possa vir...
Frenética, mortífera, sanguinária...

Despeço-me de ti pois é preciso
Pois tu conseguistes seguir em tua jornada
E eu fiquei aqui, à deriva de ti, esperando algo que nunca existira
Ou existira por um tempo diferente do meu
E por isso, despeço-me de ti...

Despeço-me de ti porque quero deixar alguém novo entrar
Alguém com novas ambições, novas experiências
Novas descobertas, novos amores...
Alguém que, deveras, esqueci
Alguém que sempre esteve aqui, esperando somente que me despedisse de ti

Despeço-me de ti para saudar o meu novo ser
O meu novo estar
O meu novo amar
O meu novo sentir
O meu novo viver

Despeço-me de ti para me transformar no amor de minha vida - agora de verdade.

Adeus, foi um bom amor, mas tenho que partir de mim
E encontrar um novo eu.

"Isso foi tudo você, nada disso foi eu
Você colocou suas mãos por todo meu corpo e me disse
Você me disse que estava pronto
Para o maior, o grande salto
Eu seria o seu último eterno amor, você e eu
Isso foi o que você me disse

Estou desistindo de você
Estou perdoando tudo
Você me libertou

Mande meu amor para sua nova amada
Trate ela melhor
Temos que nos libertar de todos os nossos fantasmas
Nós dois sabemos que não somos mais crianças

Mande meu amor para sua nova amada
Trate ela melhor
Temos que nos libertar de todos os nossos fantasmas
Nós dois sabemos que não somos mais crianças

Eu era tão forte, você estava fraco
Você não conseguia lidar com o calor que crescia 
Meu bem, eu estou crescendo tanto
Eu estava correndo, você estava andando
Você não conseguia manter meu ritmo, você estava caindo
Só há um caminho para baixo

Estou desistindo de você
Estou perdoando tudo
Você me libertou

Mande meu amor para sua nova amada
Trate ela melhor
Temos que nos libertar de todos os nossos fantasmas
Nós dois sabemos que não somos mais crianças" 
(música da postagem)

~*~
"Send my love (to your new lover)" - Adele.

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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Cora revisited

"Cora estava perdida. Não queria deixá-lo desaparecer de sua vida e somente lembrar dele como alguém muito querido e especial que ela conhecera e se tornara seu amigo, porém era necessário. Era preciso.
Ela tinha de matar esse vilão que se desenvolvera no âmago de seu ser - esse vilão que nos atinge, e que se instala de forma parasitária por tempo indeterminado -, tomando sua alma e seu viver em prol de uma satisfação egoísta: a de ser correspondida. Sim, esse vilão, julgava ela, era o amor. Ou algo muito parecido com isso.
Tinha de matá-lo, era fato. Mas tinha de matá-lo para que pudesse preservar o que construíra e conseguira com aquele rapaz.
Mas há diferenças muito grandes entre o dever e o querer. E Cora, confusa como sempre, negava a ambos com a mesma intensidade."
(2011)
~*~




Já havia muito tempo Cora não via mais o amor dessa forma. Ela o via agora como um sentimento que tem de ser leve, e se não for, não o é.
Muitas coisas aconteceram e ela não era mais aquela moça inocente de outrora: ela agora entendia a finitude das coisas, das pessoas, dos sentimentos... E dos significados das pessoas em sua vida. E também do significado dela na vida das pessoas.
Cora pensava mais uma vez no que fazer com tudo aquilo que reacendera em si. Tentar mais uma vez? Extinguir? Não sabia... não tinha uma resposta.
Um dia, então, ela entendeu: se ela nunca sentira que era verdadeiro, ou que era passível de ser concretizado, então ela teria duas opções. Estas seriam: ou deixar pra lá ou então sentir sozinha. As duas parecem fáceis, não é mesmo? 
Para Cora, nunca foi fácil desistir de quem se ama. E nunca seria, segundo o que pensava. Mas o modo de se relacionar com as pessoas, agora, contava muito mais do que o sentimento em si. Somos bilhões de pessoas no mundo, podemos sentir por várias pessoas... O que não podemos é deixar que essas pessoas se tornem farpas em nossas vidas.
E agora, mais do que nunca, Cora não queria farpas em sua vida. Não queria ser mais um acorde tocado por alguém... Sabia do sentimento que tinha. Sabia que seu sentimento era verdadeiro, intenso, apesar de machucado. Sabia do valor do seu coração e não iria deixá-lo nas mãos de qualquer pessoa. Não desta vez.
- Não há amor melhor que aquele que sentimos por nós mesmos...
Ela chegava a esta conclusão pela ducentésima vez somente naquele ano... E se ciclos se repetem, lições não foram bem aprendidas... Que Cora consiga entender, de uma vez por todas, quem pode ter parcela de seu coração ou não. 
- Querido, que você sinta um amor melhor. Que você seja alguém melhor para o seu novo amor, porque ninguém merece ser destroçado, remontado, para novamente ser retalhado... Sem dó nem piedade... Agora sei que tem-se que deixar tudo ir, para não se ter peso no coração. Que você vá, e que sinta um amor melhor.
(2016).

~*~
Música:
"Better Love" - Hozier:

"Eu uma vez me ajoelhei em trêmula emoção
Eu ainda busco a memória disso, de cada calafrio
Censurado por aquele silêncio de uma calma sublime
Cego ao propósito do divino bruto
Mas você era meu
Olhando na escuridão de alguma estrela distante
A emoção de saber o quando sozinhos nós somos, desconhecidos nós somos
Ao mundo e a nós dois
Eu confessei o desejo que estava sonhando sobre

Algum amor melhor, mas não há amor melhor
Que acena me chamando acima de mim e não há amor melhor
Que já me amou, não há amor melhor
Querido, sinta um amor melhor
Sinta um amor melhor

E eu nunca amei uma tristeza mais obscura
Do que a escuridão que eu conheci em você, tenho de você
Você, cujo coração cantaria sobre anarquia
Você riria de significados, garantias, tão belamente
Quando nossa história é queimada advinda da história
Por aqueles que achavam justiça em memória carinhosa, me testemunhavam
Como fogo lacrimejando de uma árvore de cedro
Saiba que meu amor queimaria comigo
Viveremos eternamente

Porque não há amor melhor
Que acena me chamando acima de mim, não há amor melhor
Que já me amou, não há amor melhor
Então querido, sinta um amor melhor
Porque não há amor melhor
Que já se deitou ao meu lado, não há amor melhor
Que me justifica, não há amor melhor
Então querido, querido, sinta um amor melhor,
Sinta um amor melhor

Sinta um amor melhor
Sinta um amor melhor
Sinta um amor melhor

Porque não há amor melhor
Que acena me chamando acima de mim, não há amor melhor
Que já me amou, não há amor melhor
Então querido, sinta um amor melhor
Porque não há amor melhor
Que já se deitou ao meu lado, não há amor melhor
Que me justifica, não há amor melhor
Então querido, querido, sinta um amor melhor,
Sinta um amor melhor" - Traduzido por mim.

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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

"Você terá tempo de chorar quando eu tiver ido"



Esse não vai ser um texto longo, muito menos lindo e bem estruturado. É um texto de fim de ciclos, e como todo fim de ciclo, é preciso que a gente aproveite até o último segundo e então nos preparemos para partida, ou então para a despedida. No meu caso, são ambas as coisas.
Cheguei em Assis em 19 de fevereiro de 2011, se não estou enganada. Ou foi dia 20, não me lembro completamente (embora minha memória seja boa! haha).
Em 2011 me foi apresentado um mundo que não conhecia, um mundo em que eu seria responsável por cada passo que desse e cada atitude que tivesse. Aprendi aos trancos e barrancos a lidar com dinheiro, e confesso que até hoje não aprendi por completo. Conheci pessoas que vejo até hoje, mas muitas já foram embora, assim como eu irei amanhã. Participei de um grupo de teatro que eu levo em meu coração até hoje, embora tenha acabado.
Em 2012, conheci tantas outras pessoas, tantas outras situações. Comecei a trabalhar como professora de inglês, experiência que já tive em 2011, mas voluntariamente. Percebi a diferença de ambas as coisas. Comecei a namorar.
Em 2013, o caos se instalou na minha vida pessoal... Por vários motivos, me afastei de muitos amigos e me afastei do meu então namorado. Confesso que me perdi de mim mesma nesse ano que pareceu não acabar nunca. Decidi, no fim do mesmo ano, mudar isso.
Em 2014, conheci muitas pessoas no meio da bruxaria, meu lar... Pessoas preciosíssimas a mim e que me ajudaram a decidir mudar os rumos da minha vida. Não que tenham me influenciado, mas sim me iluminado as ideias. No fim do ano, terminei o namoro... E então comecei os planos para o próximo ano, porém encontrei aqui um outro grupo de teatro que me fez reviver a alegria dos palcos que eu tive em 2011. Vi que era aquilo que fazia minha alma vibrar. Retracei meus planos ao fim de 2014.
Em 2015, vivi com muitas pessoas novas, com quem tive incríveis experiências. Pessoas que levo para toda a vida agora, sei disso. Foi um ano que, no saldo geral, eu me surpreendi muito. Eu me emocionei muito. Eu vivi muito. E tive mais claro em minha mente que Assis já teve o suficiente de mim e que eu também tive o suficiente de Assis.
Acredito que o que vou levar de mais precioso de Assis, desta cidade que me tem a amando e a odiando, são as lembranças das situações boas e ruins... E com isso eu quero dizer: as pessoas.
Tenho que dizer que me assusta mudar de rumos dessa maneira, mas não foi uma decisão impensada, muito menos no impulso. Eu pensei muito antes de decidir mesmo ir embora. Agora eu me vou de coração apertado pelas pessoas que amo que ficarão, mas de coração aberto e alegre pras pessoas que encontrarei.
Acho que esse é o objetivo de terminar um ciclo e começar um novo: curtir o luto e ter forças, e leveza, para seguir em frente. A memória ficará sempre viva, as paixões sempre ardentes, mas não podemos viver de passado. Precisamos viver no presente almejando um futuro (hipotético, é claro). 
Assis, cidade que me tem te amando e odiando, sempre! Vou sentir muito sua falta... Se não fosse por Assis eu não seria quem eu sou hoje, se não fosse por essa cidade bendita eu não estaria indo embora, eu não estaria perseguindo meu sonho, ou parte dele... 
Mas, como tudo na minha vida, eu sempre vou ter um lugar especial no coração pras pessoas dessa cidade, e sempre que puder eu volto pra visitar!
Aprendi muito, vivi muito, mas ainda há muito mais por vir. E nessa jornada do louco que foi viver de 2011 a 2015 em Assis, acredito que o mundo já foi alcançado. Uma nova jornada do louco vai começar, e é amanhã.

"Eu não quero ver e eu não quero ouvir
A sombra do morcego chegar
Por favor, não me solte quando você me ver caindo
Em direção ao terreno lamuriento da morte

Vou espalhar meu coração em suas mãos

Vai me dizer 'te vejo em breve' daqui a pouco?
Quando meus olhos se desvanecerem por favor me dê seu sorriso
E mesmo que as noites escuras terminem no alvorecer
Você terá tempo para chorar quando eu for

Devore-me e encha meu coração com coragem
Dê-me asas e camufle a cicatriz
Arranque meus pulmões e mate minha febre
Traga-me de volta para o sedutor terreno do amor

Vou espalhar meu coração em suas mãos

Vai me dizer 'te vejo em breve' daqui a pouco?
Quando meus olhos se desvanecerem por favor me dê seu sorriso
E mesmo que as noites escuras terminem no alvorecer
Você terá tempo para chorar quando eu tiver partido

Esse não é um adeus é apenas um até logo
Quando meus lábios se desvanecerem por favor dê-lhes um beijo de boa noite
Pois mesmo os dias mais brilhantes começando na aurora
Você terá tempo para chorar quando eu for

Todos os rostos felizes e as lembranças estão me matando
Estou já a sonhar?
Por favor me diga que eu apenas durmo...

Feche o círculo, chegue a um fim
Metamorfose começa
Por favor, mantenha sua promessa e deixe-me abandonar
O arrependimento e o risonho terreno do ódio

Vai me dizer 'te vejo em breve' daqui a pouco?
Quando meus olhos se desvanecerem por favor me dê seu sorriso
E mesmo que as noites escuras terminem no alvorecer
Você terá tempo para chorar quando eu for

Esse não é um adeus é apenas um até logo
Quando meus lábios desvanescerem por favor dê-lhes um beijo de boa noite
Pois mesmo os dias mais brilhantes começando na aurora

Você terá tempo para chorar quando eu for"

~*~
Música:
"See you soon", Lord of the Lost.

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