"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

quarta-feira, 8 de março de 2017

"Hate me, break me down..."


O sol já não estava mais presente. Os animais não faziam som algum. Tudo era silêncio: tempo de depuração dos fatos e sentimentos, ao que tudo indicava.
Ela estava sentada ali havia algum tempo, pensando, como o usual. Era o que ela mais vinha fazendo: pensar, ato esse que nunca fora um problema, ela sempre conseguira pensar em soluções prontamente. Por algum motivo, ela não estava conseguindo... Havia algum bloqueio, e ela o sentia muito claramente, até fisicamente.
Ele chegou perto dela e se sentou, na escuridão que ela estava. Ele tinha um castiçal com uma vela acena em mãos e demorou a reconhecê-la por conta da penumbra que se formava ao iluminar seu rosto.
- Meu amor... Há algo de diferente sobre você... O que está acontecendo?
Ela respirou fundo e penso bastante (novamente) se deveria ou não abrir seu coração e sua mente dessa forma.
- A mente é uma coisa incrível, não é mesmo, meu Amado? Num momento está tudo bem e basta que a mente se afete um pouquinho para que toda uma conjuntura mude!
- Ah, então você está deliberando sobre o poder da mente... - ele se sentou ao lado dela, um pouco mais animado - A que conclusão chegou?
Ela respirou fundo novamente, como numa tentativa de centramento, e disse:
- A nenhuma. Eu simplesmente não consigo mais chegar a uma síntese. Tudo se expande, e é como se estivesse tudo dentro da garrafa, que sou eu, pronto pra explodir. Uma tempestade contida, mesmo. E, sinceramente, meu Amado... Não sei se quero liberar essa tempestade. O caos que causaria talvez fosse muito maior do que o que a natureza repararia depois do estrago.
Lágrimas rolavam de seu rosto enquanto dizia tais constatações. Ele ficou preocupado.
- Mas, meu amor, você precisa liberar tudo isso... Você não pode conter tudo isso senão uma hora você vai quebrar e ...
- Aí é que está! Eu não posso quebrar! Eu não posso! Eu não me permito e as situações não me permitem! Eu sei ser caos, mas não posso ser! Sou, de fato, uma tempestade contida... e logo quando acho que posso liberar um tornado ou outro, algo vem para fechar a garrafa novamente... É o que sempre acontece! - Ela disse, um pouco inquieta e desesperada, ao cortar a fala dele.
Ele entendia bem o que ela estava querendo dizer. Quando se contém por muito tempo vários chuvas e pequenas ventanias, elas se acumulam de modo que muita coisa possa ser destruída caso as mesmas sejam liberadas. Mas fato é que ela precisava liberar essa tensão toda para que o elástico sendo puxado não arrebentasse, pois ele poderia acertá-la bem nos olhos.
Ele então a abraçou e pediu para que ela não deixasse de se expressar, mesmo que o outro não estivesse bem também.
- Meu Amado, até parece que você não me conhece... Eu sempre, em todos os casos, vou me segurar caso o outro esteja pior, em qualquer maneira que seja, pior que eu... Ou então, quando eu notar que eu não devo ser o foco das atenções. Eu sempre saio de cena. Talvez isso esteja me matando.
Eles então se despediram. Ele não queria ir, mas ela pediu. Ela precisava de mais tempo para depurar tudo aquilo que sentia e pensava. A brisa tocava suave a ambos quando ela pôde perceber a luz da vela desaparecendo de vez.

~*~
Música:
"Breakdown", Seether:
"Então acabe comigo se isso te faz se sentir bem
E me odeie agora se isso te mantém bem
Você pode acabar comigo se isso está em seu poder
Pois eu sou muito mais que os olhos podem ver"

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