"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Cora


Cora vivia se perguntando se algum dia conseguiria domar seus sentimentos, se algum dia ela conheceria um homem - aquele que ela julgasse o certo - e conseguiria ter sentimentos brandos por ele, e não sempre as avalanches tempestuosas que ela sentia ao se apaixonar.
Menina idealista que era, Cora acreditava que encontraria algum rapaz parecido com ela, porém que fosse diferente em alguns aspectos, mas mesmo assim a completasse. Tudo uma completa ilusão, cara Cora. Não existem pessoas assim.
Todavia, Cora conhecera um rapaz, e realmente começara a se interessar por ele. Seu aspecto tanto o quanto conservador detectou nele uma série de defeitos, que de nada valiam em face do que a pessoa dele representava para ela. Conversar com esse rapaz era sempre libertador, ele era uma luz no seu caminho obscuro e tortuoso de até então.
Com ele, ela aprendeu diversas coisas, mudou muito dentro de si após entrar em contato com ele, e isso a transformou de tal forma que ela começou a se sentir realmente livre, viva, capaz de enxergar além de preconceitos, entre outras coisas que ela julgava que ele realizava em sua vida.
Certo dia, Cora deparou-se com um dilema: "Estou ou não apaixonada?" Após um momento, um ínfimo momento, que para ela durou horas, ela teve certeza: estava apaixonada!
- Mas o que fazer com tudo isso?! O que fazer com todo esse sentimento encrustado em meu peito?! Calar-me? Deixar que o tempo aja? Não! Eu tenho pressa! Meu coração pensa diferente de meu cérebro; ele tem pressa, tem ânsia de vida, de carinho, de juntar dois corações num abraço e nunca mais separá-los - nem que esse "nunca mais" seja a duração do abraço!
Cora estava perdida. Não queria deixá-lo desaparecer de sua vida e somente lembrar dele como alguém muito querido e especial que ela conhecera e se tornara seu amigo, porém era necessário. Era preciso.
Ela tinha de matar esse vilão que se desenvolvera no âmago de seu ser - esse vilão que nos atinge, e que se instala de forma parasitária por tempo indeterminado -, tomando sua alma e seu viver em prol de uma satisfação egoísta: a de ser correspondida. Sim, esse vilão, julgava ela, era o amor. Ou algo muito parecido com isso.
Tinha de matá-lo, era fato. Mas tinha de matá-lo para que pudesse preservar o que construíra e conseguira com aquele rapaz.
Mas há diferenças muito grandes entre o dever e o querer. E Cora, confusa como sempre, negava a ambos com a mesma intensidade.

21/08/2011,
Domingo,
23h37min.

~*~
Música:
"Mr. Brightside" - The Killers.

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