"Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim." - Clarice Lispector.

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Tirar meu pobre coração do altar, me devolver, como se deve ser..."


- É difícil gostar tanto de você! Por que deveria ser assim? Tudo bem, você tem seus problemas, suas questões, seu mundo particular a desbravar... Mas por que eu não posso desbravá-lo com você? Por que você dificulta que alguém queira e possa te entender, te decodificar? Eu não entendo...
- Era isso o que você queria dizer a ele hoje? - ele perguntou, sereno.
Ela percebeu que pensava em alto e bom som. Ele estava ao seu lado, sempre. Como ele havia prometido. E ele não merecia ouvir todo esse desabafo que ela fazia. "Ele sempre me dá direções do que fazer... Eu não deveria despejar o que eu tenho pra falar nele.", pensou por alguns instantes.
- Sim... Desculpe-me, meu amado. Mas é que eu penso nessas coisas a cada instante do meu dia! Porque você sabe, eu sou um tanto assim como ele... Você saberia me dizer o porquê dele ser e agir assim?
- Você não percebeu, não é? Hm... Mais uma coisa que vocês têm em comum: esse medo irracional de se entregar, de se mostrar como realmente é. Esse medo de deixar que um outro ser humano penetre profundamente em sua alma a ponto de conhecê-la tão bem que confunde a sua com a da pessoa em questão. Esse é o medo de vocês. E, de certa forma, medo que persegue a nós todos, pois, hoje em dia, é cada vez mais difícil achar pessoas dispostas a se envolver tão intensamente com alguém até que ambos se tornem parte de uma só alma.
Ela pensou em tudo o que ele lhe dissera. Não. Não era bem isso. Ele estava sendo muito intenso por algo que não é tão intenso assim.
- Eu não creio que seja assim. Acredito que seja medo, e entendo a razão dele, mas não desse modo intenso de que você fala, e sobre um se tornar parte do outro, etc...
- Pode não ser um medo nessa escala. Mas que há um medo, há. - Ele adimitiu - Vejo que nossas conversas não foram de todo inúteis... Você está mais crítica e realista. E isso é bom.
- Eu cansei, meu querido... Cansei de sentir as coisas como costumavasentir. Estou um tanto quanto fria agora... Porque eu cansei de sentir tudo aquilo que eu senti por ele... Talvez o que ainda sinto não dure por muito tempo, mas sabe quando seu coração te pede pra continuar e perseverar? Quando ele te pede mais uma chance, mesmo sabendo que disso pode não sair nada?
- Entendo... Pois então persevere! Não deixe que o mundo, as pessoas e as coisas deixem que você não siga sua intuição. Você pode ferir-se muito mais, isso é fato. Mas por que deixar de tentar? O pior dos erros é errar por não tentar. Quem nunca tenta igualmente nunca consegue. Pense nisso.
E, dizendo isso, ele beijou-a na testa e foi embora, rumo ao sol poente. Ela ficou ali, consigo mesma, sentada debaixo da árvore no local usual de suas conversas, pensando no que fazer para acabar com seu desespero interno. "Paciência, meu coração, paciência. É tudo o que eu posso te pedir..."

22/05/2011,
Domingo,
17:12.

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Música:
"Altar particular" - Maria Gadú.

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